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Portuguesa de volta

Uma história de família. De amor incondicional. De Portuguesa.

Lusa
Lusa

Por Mauro Beting

Seu Júlio não sabia notícia do filho único Nuno desde 2015. Quando a Lusa deles caiu para a A-2 paulista, naquela mesma noite Nuno disse que nunca mais iria a um jogo no Canindé. Estava cansado de ver a Lusa ser derrotada. Ou se perder. Ou ser roubada dentro e fora de campo. Por gente de fora do clube ou pessoas que não são gente da casa. Ou nem gente são.

Júlio reconhecia no filho já adulto o que ambos são desde criança. Apaixonados. Intensos. Lusitanos.

Homem de palavra, Nuno largou a Lusa como o Canindé ficou largado. Mas também desistiu da própria casa. Não falou mais com o pai viúvo de Maria. Uma linda filha de portugueses que partiu em 2013 na mesma época do caso Héverton. Foi o coração. “Foi o desgosto”, assinavam o atestado Júlio e Nuno.

O pai ficou órfão do filho em 2015 e da mulher em 2013. Mas não da Lusa. Ainda seguiu vendo os jogos. Quando o time ficou fora de série no Brasileiro, ele ia ao Canindé aos sábados e domingos só pra imaginar o que era só saudade.

No SP-22 da A-2, ele acreditou no time, em Sérgio Soares, e na direção do clube que desde 2020 está reconstruindo a Lusa que estava ilhada.

Neste sábado ele viu no Canindé o empate contra o Rio Claro que levou a Lusa de volta aos clássicos. À primeira do SP-23. Seu Júlio ficou lá no meio da arquibancada da Marginal como sempre viu os jogos com o Nuno. Cornetando com um e outro amigo que sempre vieram. E os que sempre voltam.

No gol de Gustavo França, ele virou pra trás para celebrar com uns novos amigos de Lusa quando um jovem pulou naquele bolo. Entre beijos, abraços e lágrimas, seu Júlio sentiu algo que não lembra quando havia sido a última vez. Mas como se fosse a primeira:

- Este golo é teu, bigode velho!

Era Nuno com a velha camisa surrada do Rodrigo Fabri de 1996. E a frase da sorte de filho pra pai.

Eram os dois pulando juntos como criança. Ou melhor: os três.

- Quem é esse menino que está com você, meu filho?
- É o seu neto, pai. O Julinho. Como o Botelho. Como o senhor.

O Canindé, nos seus 50 anos, ganhava de presente um pai batizado como avô no gol do acesso; um filho batizando o neto no estádio de A2 para A1. As três gerações fazendo planos para o primeiro clássico do SP-23.

- Onde você andou nesses sete anos, Nuno?
- Por aí, pai. Renegando a família e a Lusa. Eu achei que tinha sido traído por vocês.
- E eu achei que não era bom pra você, filho…
- Não, Bigode velho. Você deu tudo que podia pra mim. Não é muito. Mas e tudo. É como essa camisa que não é segunda pele. É a única. Como a família. Só tem uma. Pode não ser a dos sonhos. Mas é nossa. Como cada tijolo deste estádio. Como o teu pai construiu esta casa. Ela é nossa. E é do seu neto agora, também.

E era mesmo. Era o Julinho cantando até o final do jogo da classificação. E já pensando no clássico contra o Corinthians.

- Vô, a gente vai vir contra eles, né?!
- Julinho, a gente só não pode mais ir é contra a gente. Voltamos, meu neto.
- Voltamos, pai

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