Por Mauro Beting
15h27 de uma quinta-feira é a hora oficial da partida do Édson - que Pelé é imortal.
Não é o horário mais comum para um jogo de quinta. Mas era o momento usual, entre 1956 e 1977, para Pelé estar no vestiário do Santos, do Brasil e do Cosmos. Antes de entrar no campo onde ninguém jogou mais para um jogo de quatro da tarde. Provável que esse seja mesmo o horário que mais vezes Ele atuou como profissional.
A rotina de Pelé nos vestiários era sagrada como o Rei do futebol. Ele pegava o material no armário, fazia as ataduras e proteções, vestia a camisa, calção, quase sempre as meias, deitava-se no banco, levantava as pernas encostadas na parede quando possível, colocava uma toalha no rosto, fechava os olhos.
E sonhava com o jogo. Com o futebol dos sonhos dele. Bolava lances. Pensava nos rivais. No que queria fazer. No que quase sempre conseguia.
Nessa hora, ninguém chegava perto. Gênio trabalhando! Mesmo descansando.
Não durava 10 minutos. E ele entrava mais acordado por 90. Fazendo sonhar eternamente.
Alguns companheiros dizem que não era só concentração. Meditação. Era sono mesmo. Pesado. Mas Ele mesmo acordava. Não precisava ninguém chegar perto.
Pelé só metia medo nos colegas quando tinha alguns momentos de sonambulismo nas concentrações. Mas até nisso eles tiravam de letra.
“O Pelé é tão fera que até dormindo, e horas antes do jogo, ele há estava metendo gols nos caras”. Falava Dorval, o 7 santista, do 10 eterno.
Era Pelé vagando pelos hotéis e, ás vezes, sonâmbulo, gritando gols de sonhos. Certamente não tão belos quanto os lances reais do Pelé real.
A partida final de Pelé foi 15h27. Nesse horário ele já tinha normalmente acordado pros jogos das 16h.
Mas, na quinta de 29 de dezembro de 2022, foi o momento em que todos os sonhos de quem jogou e quem torceu fizeram o Pelé acordar no céu de onde veio do planeta Dele.
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